quarta-feira, 10 de março de 2010

Caio Fernando de Abreu

‘Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus como você me doía de vez em quando. Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando meu Deus como você me dói de vez em quando.’

terça-feira, 2 de março de 2010

Rita Apoena

Quando um paizinho dorme para sempre, ele não atende mais o telefone, não aparece no portão, não adianta chamá-lo pelo nome ou dizer que é dia de futebol.

É que quando um paizinho dorme para sempre, ele fica espalhado no mundo, em todas as coisas pequenas, e a gente precisa de muita delicadeza para encontrá-lo de volta.

No começo, a gente só o encontra nos suspiros da mãe, nos olhos do cachorro esperando no portão, na cadeira vazia, no remendo do armário, no prego segurando o quadro, na garrafa de vinho, pela metade.

Aos pouquinhos e devagar, a gente começa a encontrá-lo nas alegrias do mundo, no vôo das cotovias, no desenho das nuvens formando barquinhos e caravelas, numa pessoa sem mágoa, na toalha sem nódoa, e até quando felizes nossos olhos vão se enchendo d'água...

segunda-feira, 1 de março de 2010

De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado.