terça-feira, 2 de março de 2010

Rita Apoena

Quando um paizinho dorme para sempre, ele não atende mais o telefone, não aparece no portão, não adianta chamá-lo pelo nome ou dizer que é dia de futebol.

É que quando um paizinho dorme para sempre, ele fica espalhado no mundo, em todas as coisas pequenas, e a gente precisa de muita delicadeza para encontrá-lo de volta.

No começo, a gente só o encontra nos suspiros da mãe, nos olhos do cachorro esperando no portão, na cadeira vazia, no remendo do armário, no prego segurando o quadro, na garrafa de vinho, pela metade.

Aos pouquinhos e devagar, a gente começa a encontrá-lo nas alegrias do mundo, no vôo das cotovias, no desenho das nuvens formando barquinhos e caravelas, numa pessoa sem mágoa, na toalha sem nódoa, e até quando felizes nossos olhos vão se enchendo d'água...

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